Gonçalo Costa tem apenas 21 anos, mas uma história de vida que dará um livro. O jovem participou no First Dates e teve um encontro com João
Ficaram amigos e tudo correu bem, mas a produtora do programa disse à Imprensa que não imaginava o passado polémico do concorrente
.Em 2016, Gonçalo era conhecido por Carter e publicou um vídeo nas redes sociais, onde ameaçou mandar o próprio cão pela janela
O momento tornou-se viral e levou-o a tribunal. Pagou pelo erro. Refez a sua vida e, agora, é gerente de pastelaria
Gonçalo Costa conta, em exclusivo à Nova Gente, a história de vida dramática.O que é que o levou a participar no Firt Dates? Foi à procura do amor?
Atualmente estou solteiro. Já tive duas relações duradouras, mas não deram certo. Como vi o programa, tive curiosidade
Fui pela experiência e para conhecer alguém. Também sabia que, ao participar no programa, ia conhecer alguém com a mesma orientação sexual que eu e provavelmente iríamos tocar no tema da homofobia e do preconceito
Sabia que íamos poder partilhar a nossa história e dar o exemplo. O preconceito está em todo o lado e no nosso País dizem que está melhor, mas não está
Quis dar o exemplo?.É uma coisa de que se tem de falar. Para saber das coisas temos de ouvir falar delas
Temos de ter testemunhos, saber histórias, ter alguma coisa para saber o que é. Já tinham existido casais homossexuais, mas pelas mensagens que tenho recebido dizem que nós fomos os mais marcantes
Sentiram-nos mais à vontade, sem nenhum problema em estar ali.O Gonçalo e o João estavam muito descontraídos durante o encontro, mesmo estando à frente de várias câmaras…
Muita gente pergunta se aquilo é manipulado. As câmaras nem se veem, como se fosse um reality show
Nem notamos que são câmaras. Eu seja em que situação da minha vida for, eu sou sempre o mesmo
Foi só entrar. A única coisa diferente é que tinha a Fátima Lopes e Ruben Rua. A produção foi cinco estrelas e aconselho qualquer pessoa a participar
Eu gostei.«Vamos ter um segundo encontro em março, no Douro».O que é que achou do João, o match encontrado para si?
Quando cheguei, olhei para ver quem era o rapaz. Fisicamente não era aquilo que eu estava à procura
Nós temos sempre os nossos requisitos. Mas mal me sentei e comecei a falar com ele, gostei da forma como ele falou
Ele é mesmo assim. Ali e fora dali. É muito carinhoso e isso conta muito. Na procura de conhecer alguém não tem de ser propriamente para conhecer alguém
Uma amizade já chega na minha opinião. Pedi à produção que gostava de alguém que soubesse ter uma conversa, que tivesse conteúdo, e acertaram
O João realmente tem essas características. .No final ambos disseram que queriam ter um segundo encontro, já aconteceu? Têm falado?
Eu e o João combinámos que não íamos dizer a ninguém, que ia ser surpresa. Nós não estamos juntos
Há muita gente que pensa que estamos a namorar. Somos bons amigos, falamos todos os dias
Estamos a conhecer-nos, mas nós trabalhamos muito. Eu trabalho durante o dia, o João trabalha mais à tarde e à noite
Então não temos o tempo que queríamos para desenvolver algo. Ele é do Algarve, eu sou de Lisboa
Mas já estamos a tratar e vamos ter um segundo encontro em março, no Douro. Vamos registar alguns momentos
A comunidade LGBT que viu e que segue quer saber mais, como é que correu. Até porque o João já me mandou uma prenda para o meu trabalho e tudo
As pessoas têm muita curiosidade. .«Não tenho contacto com o meu pai, porque me abandonou quando eu era mais novo»
Como é que a sua família reagiu à participação?.Eu só contei à minha mãe. Só contei à minha mãe um dia antes de ir gravar o programa
A minha mãe apoia-me em tudo. Seja bom ou mau. Eu disse-lhe que ia participar no programa da Fátima Lopes, ela sabe que eu estou solteiro
Tenho a sorte de a minha família materna me apoiar na minha orientação sexual e nas minhas escolhas
A minha família paterna é mais reservada. Eu não tenho contacto com o meu pai, porque me abandonou quando eu era mais novo
.O que é que aconteceu com o seu pai?.Isso é uma coisa que me provoca angústia e tristeza
Nunca pude falar com o meu pai sobre aquilo que me faz feliz. Acho que os pais só querem ver os filhos e eu ser assim é a maneira como eu sou feliz e não escolhi
Eu tive de aceitar que o meu pai me abandonou, ele também vai ter de aceitar a forma como eu sou
Não sei o que é que a vida me reserva em termos de relação com ele e com a minha família paterna, que são pessoas de quem eu gosto muito, mas como são mais reservados e moram no Norte… Esta história de eu gostar de homens e ter alguma exposição nunca gostaram muito
Então decidiram afastar-se um bocadinho. Eu respeito isso. Não guardo mágoa, mas fico triste porque é a minha família e eu gostava de me relacionar com eles
.«Vinha da escola para tomar conta do meu pai».O Gonçalo não fala mesmo com o seu pai atualmente?
Não, não. Eu já tinha ido à Fátima Lopes, em 2016, à procura dele. O meu pai teve um acidente e ficou numa cadeira de rodas
Quando ele saiu do hospital, o meu pai e a minha mãe ficaram juntos e vivíamos todos juntos com o meu irmão
Quando eu tinha oito ou nove anos, eu fui um mini enfermeiro. Cuidei do meu pai. Vinha da escola para tomar conta do meu pai, para tratar daquelas coisas que são precisas para alguém que está na situação dele
Desde fazer o esvaziamento, da algálias, dos lanches, do tomar banho… Qualquer coisa
Ele precisava de ajuda e a minha mãe tinha de trabalhar. Passado uns anos, ele teve uma infeção urinária e conheceu uma enfermeira no hospital
Ficaram juntos, mesmo ele estando de cadeira de rodas. Senti que ele destruiu um bocadinho a nossa família e afastámo-nos
Entretanto a rapariga deixou-o e ele ficou sozinho. Houve um dia em que entregou a casa, vendeu o carro e desapareceu
.Durante o encontro, o Gonçalo falou também de um livro sobre preconceito e a sua história de vida, que está a escrever
Como é que está a correr?.O livro já está a meio. É uma coisa que eu quero muito
Há uns anos não sabia bem sobre o que seria, mas agora tenho a certeza. Como trabalho muito, às vezes não tenho o tempo que eu queria para o escrever
Mas tenho sempre um tempinho e sempre que tenho aproveito para o escrever. É fácil porque é sobre mim
É só ir escrevendo. Vai ser uma história sobre a minha vida, um testemunho, em relação à sexualidade, à homofobia e ao preconceito
Vai ter testemunhos de pessoas que estão ligadas a mim. Explico como é que contei, como é que foi a relação
Como é que começaram a aceitar e conto alguns episódios de homofobia que sofri na escola que ninguém sabe
«Disseram-me: 'Grita que és paneleiro, se não vou-te mandar para a linha e vais morrer'»
Falou sobre o livro com a Fátima Lopes durante o programa?.O João foi à casa de banho e a Fátima Lopes sentou-se à mesa comigo
Eu contei-lhe e ela quase chorou à minha frente. Até se arrepiou. Disse-lhe que lhe agradecia a oportunidade e que gostava de ir ao programa dela já com o livro, com mais conteúdo para falar
Eu não vou escrever o livro para ficar milionário. Os livros vão ser vendidos, mas o meu objetivo principal é a história que está lá dentro
É bom que as pessoas percebam que, para acontecer o que me aconteceu a mim, é porque está a haver falha dos pais
Na escola somos muito cruéis, egoístas. Não pensamos antes de agir. Mas se a nossa educação for usada, soubermos respeitar o espaço dos outros… Houve coisas que me aconteceram
Era uma altura em que chovia muito, queríamos era sair da escola e ir rápido para casa
Eu apanhava o metro para ir para casa. Houve um dia em que os mais velhos, os 'mauzões' da escola, estavam no metro
Faltavam quatro minutos e pouco para o metro. Eles começaram com as piadinhas, os calduços
Eu levantei-me porque entretanto já só faltava um minuto para o metro vir e eles chegam-se ao pé de mim, agarram-me pelos braços e metem-me depois da linha amarela (de segurança)
Pegaram em mim e meteram-me no ar e disseram: 'Grita que és paneleiro, se não vou-te mandar para a linha e vais morrer'
Eu era um. Eles eram seis. Portanto eu tinha de fazer o que eles mandavam. Ficar em pânico na minha adolescência só por gostar de pessoas e por haver pessoas que não respeitam, digo que os pais dão educação mas os filhos não a sabem usar
.A sua mãe tem conhecimento destes momentos difíceis?.Eu não contei, porque sei que os pais sofrem muito
Eu sempre preferi não contar. Uma vez mandaram-me para uma poça de lama. Cheguei a casa todo sujo e disse à minha mãe que ia a correr para apanhar transporte para casa e que cai
Saia da aula para ir à casa de banho e eles estavam na casa de banho a fumar cigarros e ganzas
Obrigavam-me a bater em mim próprio, chegaram-me a apagar cigarros nos braços. Eu era um miúdo e guardava tudo para mim
Se calhar fui mais revoltado por causa disso. Eu era muito bom aluno, mas era muito revoltado
Se tivesse de responder, respondia. O que me fazia era eu ser julgado e mal tratado por gostar de pessoas
.«Queria contar, mas não ganhava coragem».E agora sente que é altura para partilhar essas histórias com o mundo?
Eu recebo mensagens com histórias e, inclusivamente, o meu date no programa foi expulso de casa às 4h00 quando a mãe soube
A minha mãe também idealizou que eu ia casar e ter filhos, mas isso tudo pode acontecer e vai acontecer
Não tem nada a ver se é com um homem ou uma mulher. A minha mãe sempre respeitou as minhas relações, o meu namorado vinha cá a casa, dormia cá
Eles davam-se muito bem. Não foi fácil na altura em que contei. Queria contar, mas não ganhava coragem
Mas sabia que estava a mentir. Perguntavam-me por namoradas e eu não dizia a verdade
Até que um dia enviei uma mensagem, ela não gostou. Sentiu-se mal no trabalho e tudo
Mas depois tivemos uma conversa e aceitou, respeitou e esteve sempre comigo. Tenho pena de não poder fazer isso com o meu pai
.Acha que o facto de ter aparecido na televisão pode ajudá-lo a reencontrar o seu pai?
O meu pai é muito como a família dele. São muito reservados. Eu consigo pôr-me nos dois lados, mas o de filho fala sempre mais alto
O meu pai é muito novo e teve o acidente muito novo. Agora tem 43 anos. Eu tinha quatro ou cinco anos quando ele teve o acidente
Ele já se tentou suicidar e tudo. O meu pai não pode ser pai a part-time. Não pode ser pai e depois dizer que se acabou o nosso contrato
Eu sigo a minha vida, tu segues a tua. O meu padrasto é que tem sido o meu pai. A minha mãe tem marido, está casada e refez a vida dela
O meu padrasto trata-me super bem. Aceitou-me mesmo na vida dele como filho dele
Quando eu preciso dele, ele está lá.
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